Transportadoras em Santos – Eixos suspensos e o pagamento de pedágios
Por Vitor Aguiar Fagundes
Da Fagmax, em Santos – 20/05/2014 – Edição 002
A vida útil de um caminhão depende de alguns fatores, como a forma com que o proprietário cuida (fazendo revisões e manutenções periódicas), o tipo de carga que ele carrega e alguns opcionais/adaptações que podem ser comprados à parte.
O avanço da tecnologia utilizada na fabricação de veículos pesados possibilitou o projeto de itens opcionais/adaptações que visam o aumento de rendimento do veículo e a diminuição do desgaste de suas peças e componentes. Uma das evoluções mais interessantes foi o “eixo suspenso”, que dá a possibilidade de suspender eixos do bug e/ou da carreta, quando esta está vazia, evitando que os mesmos toquem o chão, e diminuindo custos com pneus, freios, rolamentos, molas e, principalmente, pedágios. Essa adaptação, no entanto, requer um investimento por parte do dono do caminhão.
O custo para instalação do eixo com alavanca de suspensão é, em média, de R$ 5.000,00. No entanto, desde julho de 2013, tal investimento perdeu boa parte de seu benefício: a economia nos pedágios. Até então, o pedágio nas rodovias estaduais era cobrado pela quantidade de eixos UTILIZADOS, ou seja, eixos que estavam em contato com o chão. Porém, essa mudança na legislação fez com que os transportadores de cargas passassem a ter que pagar pura e simplesmente pela quantidade de eixos que o veículo possui, independentemente da sua utilização.
Oras, uma vez que:
- O preço do pedágio deve ser proporcional ao desgaste gerado na estrada pelo veículo;
- O desgaste gerado na estrada pelo veículo é proporcional ao peso carregado;
- O número de eixos utilizados (em contato com o chão) é proporcional ao peso carregado.
Podemos concluir que o valor a ser pago ao pedágio deve ser proporcional ao número de eixos que estão sendo utilizados. Logo, se o caminhão está vazio, alguns eixos podem ser suspensos, menos desgaste é gerado na estrada e menor DEVERIA ser e o valor pago no pedágio.
No entanto, não é esse o entendimento dos administradores das rodovias do país. As rodovias federais já cobram pelo eixo suspenso há muito tempo, e apesar de apresentarem pedágios mais em conta, já representavam um aumento considerável no custo logístico.
Agora, porém, as rodovias estaduais decidiram seguir o mesmo raciocínio. Visto que, em São Paulo, a maioria delas é privada (Rod. Bandeirantes, Castelo Branco, Anhanguera, Imigrantes, Rodoanel, dentre outras), os pedágios têm valores muito mais altos, impactando ainda mais no custo do transporte rodoviário e, consequentemente, diminuindo a competitividade do produto brasileiro.
Em termos práticos, um caminhão com 6 eixos, completamente carregado na sua viagem de ida (30 toneladas de carga), trafega com todos os eixos no chão, e paga o pedágio por 6 eixos (o que é justo, pois está utilizando o veículo em sua capacidade máxima, e tirando todo o proveito da estrada). No entanto, após descarregar a mercadoria no cliente, o mesmo caminhão irá retornar vazio, ou seja, com 30 toneladas a menos de carga. Desse modo, existe a opção de suspender 3 eixos (um do cavalo e dois da carreta). Durante esse trajeto, o caminhão está exercendo um desgaste da rodovia muito menor do que o exercido no trajeto de ida, e, portanto, o correto seria que tivesse uma redução de 50% no custo do pedágio.
Façamos uma conta básica, considerando o preço do pedágio de R$ 10,00 por eixo:
Sem cobrança dos eixos suspensos:
- Ida: 6 eixos x R$ 10,00 = R$ 60,00
- Volta: 3 eixos x R$ 10,00 = R$ 30,00
- Total: R$ 90,00
Com cobrança dos eixos suspensos:
- Ida: 6 eixos x R$ 10,00 = 60,00
- Volta: 6 eixos x R$ 10,00 = R$ 60,00
- Total: R$ 120,00
Desse modo, concluímos que o custo poderia ser 25% menor do que o cobrado atualmente.
No exemplo acima, consideramos uma rota curta, com poucos pedágios. No entanto, no caso de uma rota mais longa, como Santos/SP – Goiânia/GO, teríamos uma diferença que causaria muito mais impacto.
Essa cobrança integra o famoso Custo Brasil, aumentando o custo do produto acabado. No mercado nacional, o arroz, a televisão, o computador, os carros, e tudo que compramos tem seu preço acrescido por esse custo desnecessário. E, no mercado internacional, temos nossa competitividade diminuída.
Infelizmente, depois de quase um ano da entrada em vigor dessa nova legislação, não se nota diferença na infraestrutura de nossas estradas, que continuam com trechos esburacados, mal sinalizados e que causam cada vez mais acidentes e desgastes nos veículos.
Nos resta, portanto, suspender os eixos para preservar os pneus, molas, freios e rolamentos de nossos veículos e, consequentemente, reduzir o custo do produto de nossos clientes.